terça-feira, abril 18, 2006

ENCONTREI DEUS E O DIABO EM UM LUGAR ONDE NINGUÉM ERA SANTO, SE DIVERTIAM. FIZ DE CONTA QUE NÃO OS VI.




Continuando com a campanha de contos sujos, turbulentos e embriagantes passei a semana santa com umas garrafas de cerveja, cigarro e escutando Johnny Cash. Minha fé estava abalada, me convidaram para ir à missa mas estava com preguiça, nunca foi meu estilo bancar o santo. É tarde para pedir perdão pelos meus pecados. A chuva não parava.


Traidora é a Noite.


Esse dia foi como todos os outros ao longo da semana: de chuva. Fazia frio, escorado à janela admirava a chuva castigar a quem se protegia dela. Minha respiração embaçava o vidro. Sentia falta dos teus beijos.
Na trégua temporária que a chuva dava, aproveitei a oportunidade para ir à Cidade Velha. Sempre há algo interessante por lá. Sua atmosfera faz-me bem, desperta meus sentidos e me traz inspiração.
Passo por um boteco, mas dessa vez não peço cerveja ou coisa do tipo, peço um café. Está ligeiramente morno. Engraçado como são os cafés de boteco, quando não estão muito mornos estão muito quentes, mas não deixam de ser ligeiramente gostosos, me trazem a sensação de uma época que não volta mais, tempos como aqueles em que ia de manhã com meu pai a padaria e sempre pedíamos um copo de café. Café religiosamente de padaria.
No balcão do boteco faço um balanço do meu dia, foi relativamente bom, mas um pouco estafante. Relativamente bom para dizer que não foi uma merda, trabalho só é legal quando feito pelo outros, procuro não pensar nisso, me dá coceira.
A chuva volta a cair, deixo o pouco que resta do café de lado, acendo um cigarro e peço uma cerveja. Uma mistura nada saudável, tento terminar um poema há tempos perdido em minha carteira. Tento, mas somente idéias que não consigo passá-las para o papel, é frustrante, peço mais uma cerveja. Incrível como ela ainda rouba minha inspiração.
A mesma saudade, o mesmo sentimento. A chuva finalmente cessa, lembro que estou perto da casa do Teodoro, vou até lá pra trocarmos algumas linhas de prosa. Chegando lá, como de habitual ele não está, saiu repentinamente, na certa pra encontrar algumas de suas concubinas, ele devia tomar cuidado, ainda vai levar uma faca nas costas de um marido corno.
Anoitece, ligo para o Fernando para irmos ao Pimenta Café tomar umas cervejas, lá é sempre movimentado e a visão é boa, é sexta-feira, quem sabe eu a esqueça de vez quando estiver enrolado em um par de coxas.
No caminho encontro a Pati, ela continua bonita e gulosa como antes, mas seu corpo já começa cair de qualidade. Ela é gente boa, já abriu meus horizontes, poderia me tirar dessa vida conturbada, mas já tem filho, e minha macheza primata não me deixa, não sou da caridade, não crio o filho dos outros. Quem diria, uma vez o moleque dela me chamou de “papai”, quase me comovo, preferi ficar em silêncio.
Chegando ao Pimenta Café, enxergo o Fernando. O Mesquita como sempre não perde o trem, logo que adentro encontro a Renata, como sempre linda, uns dois beijos no rosto e uma cheirada safada em seu pescoço. Ela sabe que gosto dela, mas não, ela não me quer, chego a pensar o quanto ela curte essa tortura chinesa que pratica comigo. Já abri meu coração pra ela uma vez, mas em vão. Como elas sempre dizem: “gosto muito de você, mas como comigo, não suportaria estragar nossa amizade”. Ela não imagina, casaria com ela se pedisse.
Junto-me ao pessoal, tomo firme a minha cerveja, está excelentemente gelada, o alivio gelado percorre toda a minha cabeça, sinto-me mais leve, esqueço desatinos, sem dúvida, álcool ajuda a esquecer problemas.
O Mesquita pergunta se já esqueci aquela mulher. Respondo que não, ainda sinto o cheiro dela, é alucinante, certa vez a encontrei em uma boate, não me diverti nada, resumi minha noite a ficar-lhe espreitando.
Já me sinto meio legal, o Fernando também já está meio transtornado, falando muita besteira, mais porre do que eu não está, sempre fico doido primeiro. Vejo a Renata em uma mesa próxima, ela dança com umas amigas, está suada, imagino um pingo de suor descendo por seu pescoço, sinto mais sede, tomo mais uma cerveja, uma gota escapa por meu lábio, limpo coma língua, ainda estou olhando pra ela.
Um cara estranho, metido a ser bacana chega a mesa dela, cheio de frescuras pra beber, diz que só bebe uísque. Homem que se preze bebe sempre cerveja, melhor ainda, bebe tudo, não tem frescura. É minha macheza primata falando. Levanto elegantemente porre da cadeira, vou até a Renata pra bater um papo, corto a conversa dos dois, ela nos apresenta, mas evito qualquer tipo de contato, só me interessa a Renata, a puxo pra dançar, ela sabe o meu querer.
Entre uns goles e outros, cortando a conversa do cara, percebo que ele sacou, marquei minha área, derramei um pouco de cerveja perto dele. Mas procuro maneirar, não quero ser inconveniente. Fernando e o Mesquita chegam a mesa, apresento a Renata e minhas outras amigas a noite promete, nos divertimos muito.
Elas vão embora. A Renata também vai embora. O Babaca vai junto. Se ele vai ficar com ela não me interessa, ela já me recusou, não ligo mais. O Mesquita convida para mais uns goles. Inspiro o perfume da Renata e a esqueço com uma baforada do meu cigarro. Amor não são lampejos de emoção, tampouco demonstrações falsas de gentileza. Sou o que sou, meus versos me traem, hoje a noite me traiu, sempre volto para o teu rosto de anjo, acho que nunca mais vou ver.
Meus amigos me desovam à porta de minha casa. Já é de manhã, lembro da garota, lembro da Renata, penso no que poderia fazer mais, mas as idéias, as palavras me fogem, caio na cama, meu mundo gira, demoro a dormir, é dificil, o mundo gira. A vida boêmia me traiu.

Belém, 16.04.2006
Alex Corvis

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

em poucas palavras, mas vc escreve com simplicidade e lascívia... em suma, bem !

5:36 PM  
Blogger amaseu said...

meus amigos flam que eu sou frio, mais perto que eu li nossa...nem eu sei de mim....

1:38 PM  

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